São haitianos, sul-americanos, africanos e árabes que trazem na bagagem histórias de sofrimento, perseguição e angústia. Em solo brasileiro, buscam pelo sonho de uma nova vida, de conseguirem um emprego, de constituírem uma família, ou de, ao menos, viverem em paz. Com o auxílio de três padres da ordem dos scalabrinianos, e outros muitos colaboradores e voluntários, esses migrantes tentam um recomeço de forma digna.
Esse trabalho desenvolvido pela Missão Paz acolhe imigrantes de diversas nacionalidades, sem nenhuma forma de distinção, desde o fim da Primeira Guerra Mundial. Cerca de 110 leitos são disponibilizados pela Casa do Migrante, além de refeições e local para banho. Só nos primeiros cinco meses do ano, mais de 2.500 pessoas passaram pelo espaço.
Foto de: Allan Ribeiro / JS
Haitianos passam por palestram intercultural antes
de serem encaminhados aos empregadores
de serem encaminhados aos empregadores
O índice elevado acompanha o movimento migratório em todo o país ao longo dos anos. Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), com base em dados do Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), o número de solicitações de refúgio no Brasil cresceu de 566 em 2010 para 12 mil no ano passado. A professora de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Cláudia Alvarenga Morconi explica que o aumento expressivo de imigrantes nos últimos anos, diz respeito aos fluxos oriundos principalmente da Síria e do Haiti.
Nos braços do diretor da Casa do Migrante, padre Antenor Dalla Vecchia, que muitos dos acolhidos encontram amparo. Ele ressalta que a Missão tem um papel importante, pois dá a esses povos a possibilidade de vislumbrarem um novo horizonte, tanto do ponto de vista de documentação como o de terem quem os escutem.
“Acredito que é a oportunidade que nós temos como nação, sociedade civil e Igreja, de dar um passo a mais, percebendo que essas pessoas não são ameaças, pelo contrário, são pessoas que vem para somar, acrescentar a essa sociedade que já é constituída pelas mais diversas nacionalidades do mundo”, salienta o sacerdote que ainda ressalta que a Igreja deve ser a primeira a se abrir a essa realidade.
O nigeriano Ejime Matthew Aciholor, de 30 anos, veio ao Brasil em busca de paz. Como refugiado há quatro meses, ele conta que vivia uma vida normal, como bancário, no estado de Delta, ao sul do país. Mas, com a perseguição aos cristãos pelo grupo radical islâmico Boko Haram, Ejime viu como única alternativa abandonar suas raízes.
“Meu objetivo é ter uma vida calma aqui. Gosto muito do Brasil e quero viver aqui o resto da vida. O país é muito calmo e pode-se viver normal”, afirma otimista o nigeriano. Hoje o migrante passa por cursos para apreender português e assiste a palestras para se inserir no mercado de trabalho.
Semanalmente, voluntários lecionam língua portuguesa e ministram palestras interculturais em francês, espanhol e inglês. Como exigência para concorrer a uma vaga de emprego, os frequentadores do centro de apoio no Glicério, devem participar dessas atividades.
Essa é uma maneira de, aos poucos, inseri-los na sociedade brasileira, ensinando-os hábitos e costumes sociais. Muitos saem de seu país de origem com a perspectiva de que o Brasil é uma nação acolhedora e miscigenada, mas, ao chegarem, deparam-se com uma população preconceituosa. “Temos percebido algumas reações muito negativas, de xenofobismo, de preconceito, de resistências, como que rotulando essas pessoas de forma muito negativa”, diz o padre.
Foto de: Allan Ribeiro / JS
Professores voluntários lecionam língua portuguesa
aos migrantes, visando à inserção desses estrangeiros
no mercado de trabalho
aos migrantes, visando à inserção desses estrangeiros
no mercado de trabalho
Em plena crise que o país atravessa, encontrar um emprego se torna um drama maior aos imigrantes. Depois do terremoto que assolou o Haiti, em 2010, Luckson Honorat, de 29 anos, buscou auxílio em São Paulo (SP). Encontrar novas oportunidades de trabalhar e aprender uma nova profissão foram os motivos que o trouxeram. Mas, ao chegar ao Brasil, percebeu uma realidade distinta.
“É muito difícil achar trabalho e estudar, mas eu gostaria de voltar a estudar. No Haiti, estudava informática e aqui trabalho como pedreiro. Espero poder estudar, aprender coisas novas. Pretendo juntar dinheiro para voltar ao Haiti. Apesar de amar muito o Brasil, acho que esse é um país muito difícil. Além disso, há alguns brasileiros, não todos, que não respeitam os povos que vêm para trabalhar, para ajudar o país a crescer” desabafou o imigrante.
Os estrangeiros que passam pela casa conseguem emprego principalmente em setores como hotelaria, gastronomia, construção civil e serviços gerais. Muito além do dinheiro que precisam para as necessidades básicas de sobrevivência aqui, eles encaminham remessas aos familiares que ficaram na terra natal.
Os empresários que se interessam por contratar a mão de obra imigrante formalmente realizam uma capacitação. Os contratantes são sensibilizados sobre as principais dificuldades enfrentadas por esse povo, além da importância de um salário digno. Outro aspecto ressaltado às empresas é a questão da oferta de moradia provisória, tendo em vista que os refugiados não possuem fiador para alugarem um imóvel no país.
Além do eixo trabalho, o local se dedica a outras atividades. Os abrigados passam por atendimento religioso, psicológico, médico, odontológico e social. Eles recebem orientação de como conseguirem a emissão de visto, refúgio, carteira de trabalho, são informados sobre os direitos trabalhistas que possuem, entre outros aspectos. Os filhos dos migrantes também são matriculados na rede de ensino.
Fonte: A12.com
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