sexta-feira, 15 de abril de 2016

Pai e filho de Poá se preparam para se tornarem padres

Homem já havia frequentado seminário, ficou viúvo e decidiu retomar sonho.
Filho começa a se preparar para o sacerdócio em 2016.

Depois de abandonar o seminário, casar, ter filho, trabalhar como pedreiro e ficar viúvo, aos 53 anos o diácono Ubirajara Gonçalves, de Poá (SP), se prepara para ser padre. A ordenação está marcada para fevereiro de 2016. Para tornar a história ainda mais curiosa, o filho dele também pretende entrar para o seminário. No próximo ano, Samuel, de 19 anos, passará a frequentar o espaço chamado Propedêutico, junto ao Seminário Menor de Mogi, na Cúria Diocesana, que é o primeiro passo do caminho para o sacerdócio.
O rapaz credita sua escolha aos pais. “Eu desde pequeno sempre gostei do sacerdócio, achava muito bonito. Eu fui coroinha, depois cerimoniário. A vocação veio um pouco mais forte com o passar dos anos e com a ajuda dos meus pais que sempre me deram muita força.” Ele diz que leva uma vida normal, tendo terminado os estudos e feito até um curso técnico. O jovem destaca que atualmente sua vida é voltada à Igreja – caminho que trilha junto com o pai.
Filho de pais evangélicos, o diácono Ubirajara se tornou católico aos 17 anos depois de batizar o irmão caçula. “Eu seguia a igreja evangélica apenas quando criança para acompanhar meus pais. Depois na adolescência larguei.” Na ocasião, Gonçalves afirma que ficou encantado quando, durante uma missa, ouviu o padre falar da campanha da fraternidade e das leituras bíblicas. “O tema da campanha era 'Fraternidade Sim, Violência Não'. Eu vi ali todo o empenho da Igreja pela vida e pelo fim da violência e aquilo me tocou.”

Em 1987, aos 25 anos, ele ingressou no seminário em Aparecida determinado a se tornar padre. Mas algum tempo depois descobriu que um dos irmãos tinha câncer no cérebro e decidiu se afastar para cuidar dele. Ubirajara conta que cuidou do irmão por quase dois anos até que ele faleceu. Ele não voltou para o seminário e foi ser catequista.
Ubirajara conta que em um curso de catequese para crisma conheceu a esposa Maria Aparecida e, em 1994, se casaram. O casamento fechou, na ocasião, a porta para o sacerdócio. Em 1996, nasceu Samuel – o único filho do casal.
Gonçalves seguiu a vida com a família, mas sempre atuando com a esposa na Igreja Católica. Ele trabalhava como pedreiro em uma estação de tratamento de esgoto da Companhia Paulista de Saneamento Básico (Sabesp) em Suzano. Em 2000, Maria Aparecida resolveu fazer uma surpresa para o marido. “Ela ligou para a Paróquia Nossa Senhora de Lourdes, em Poá, que frequentávamos, e perguntou ao padre se a Diocese estava investindo na formação de diácono e no pagamento da faculdade de teologia. Ele disse que sim. Ela então sugeriu meu nome e ele aceitou. Ela me ligou para me contar, mas eu não acreditei. Só fui acreditar quando o padre me confirmou", lembra.
"Eu fazia o curso de teologia na Faculdade Paulo VI em Mogi durante a noite e de dia trabalhava como pedreiro. Uma vez por mês, sempre aos sábados, frequentava  também a Escola Diaconal”, continua.
Em 2010, a esposa de Gonçalves sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Apenas em fevereiro de 2013, ele foi ordenado e se mudou para Guararema para dar apoio na Paróquia Nossa Senhora da Escada e São Benedito.
Já debilitada pelo diabetes e pressão alta, a esposa de Gonçalves faleceu em julho de 2015, vítima de pneumonia. Com a morte e a decisão do filho de ir para o seminário, o diácono voltou a sonhar com o sacerdócio.
Ele expôs sua vontade ao bispo Dom Pedro Luiz Stringhini. “Eu disse para ele que o meu filho iria para o seminário e eu ficaria sozinho. Perguntei se poderia pensar na possibilidade de ser padre. Ele pediu para eu mandar uma carta para o Conselho de Presbíteros. Depois apresentou essa carta para o clero que aprovou minha ordenação. A ordenação está marcada para 6 de fevereiro”, conta Gonçalves.
Apesar da felicidade com a notícia, o diácono ainda tenta entender a nova etapa de sua vida. “Para mim foi um caminho que Deus trilhou. Para ser padre existe um processo formativo. A pessoa se torna padre jovem, com 25 anos. Eu ainda não entendo como isso veio a acontecer, estou tentando digerir a situação. Para mim ser padre é estar realmente ligado a Jesus Cristo crucificado pela salvação da humanidade. É estar comprometido com os necessitados, doentes e pobres. Já me dedico aos doentes como diácono, mas pretendo fazer isso com mais afinco no meu sacerdócio.”
O bispo Dom Pedro Luiz Stringhini, da Diocese de Mogi das Cruzes – que engloba todo o Alto Tietê, explica que o diácono é um dos três estados de vida adquiridos pelo Sacramento da Ordem. “A ordenação dos diáconos é o primeiro grau nesse sacramento, os padres o segundo grau e os bispos o terceiro.” Ele completa que existe o diácono transitório que é o jovem que faz a promessa do celibato e depois de seis meses se torna padre. “Diáconos permanentes são os homens casados que não fazem a promessa de celibato e serão diáconos, em princípio, para sempre, a menos que fiquem viúvos, como é o caso de Gonçalves.” 
De acordo com Dom Pedro, a Diocese de Mogi tem 14 diáconos permanentes e três transitórios que serão ordenados padres em 12 de dezembro. “Em 26 de dezembro vamos ordenar outros cinco diáconos permanentes. E o diácono Ubirajara se tornará padre em 6 de fevereiro de 2016.”
O bispo avalia que casos como o de Ubirajara e de Samuel ajudam a fortalecer o sacerdócio na igreja. “É muito bonito ver pai e filho participando da Igreja, ajudando no altar e se dispondo a trabalhar pelo Evangelho por meio do sacerdócio.”
Pai e filho no mesmo caminho
De acordo com Ubirajara, o filho ficará no espaço chamado Propedêutico por um ano e depois vai para o Seminário Maior para estudos de filosofia na Faculdade Paulo VI, onde também estudará teologia. “Quando eu trabalhava no tratamento de esgoto,  minha esposa dizia para ele estudar para encontrar um bom trabalho e ele respondia que ia trabalhar no esgoto. Minha esposa e eu sempre fomos ativos na Igreja e ele sempre nos acompanhou . Então, a nossa vida cristã foi base dele.”
Gonçalves calcula que o filho vai levar oito anos para se tornar padre. “Ele passará 1 ano no Propedêutico, 3 anos cursando filosofia e 4 anos no curso de teologia. Só depois poderá ser ordenado.”
Com o início dos estudos, Samuel já sabe que haverá um afastamento da convivência com o pai. “Vou poder voltar para casa somente aos finais de semana. Depois será apenas nas férias. Tudo para vivenciar a vida no sacerdócio. Também vou conhecer a realidade de algumas paróquias da Diocese”, conta Samuel. 

A mesma fé que move o pai, também pode ser sentida nas palavras do filho. “A partir da hora que tenho essa vocação, depois dos oito anos de estudo, eu digo que é um sonho realizado. A partir do momento que quero ser padre, me desligo e Cristo vive em mim”, acredita.
Fonte: G1.com

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