sexta-feira, 20 de junho de 2014

Caridade Cristã: Abrigo São Francisco e Santa Clara

Comunidade Católica Sagradas Chagas 






A rua Central, número 194, tem sido a nova casa de Ronaldo Souza Santos, 52 anos, que logo na chegada conta as alucinações e os personagens que a cachaça lhe mostrou desde menino. Natural do povoado de França, interior de Piritiba, região da Chapada Diamantina, Ronaldo fala do passado amargo e sofrido apresentado pelo próprio pai, que também lhe amparava quando o encontrava caído no chão.


A perda da mãe aos 10, e anos mais tarde um amor pouco correspondido, (fato não tão relevado pelas palavras, mas pelos olhos) amargaram a vida de Ronaldo, que só parecia mais doce com a bebida. As ruas e as praças de tantas cidades que passou em busca de emprego fizeram acreditar em seus próprios personagens vividos em alucinações e hoje contados pelos corredores do sossegado Abrigo São Francisco e Santa Clara, no bairro Santa Cruz em Luís Eduardo Magalhães.

A rua ainda sem pavimentação, lavada pela chuva, foi o caminho de inúmeras tentativas de deixar a bebida e tentar uma aproximação com a ex-esposa e o filho de 20 anos, comenta Ronaldo, ao lembrar os 33 dias sem álcool, depois de 88 vividos à base de cachaça e fumo no gramado às margens da BR 242, próximo a rodoviária da cidade. “Eu vi muita coisa, muita gente, não entendia nada do que estava acontecendo... minha pele estava queimada pela cachaça”, comenta Santos também bom de matemática. A história de delírios é relatada aos ouvidos dos coordenadores do abrigo, João Paulo de Jesus Santos e Valdete Maria Mathana, que confirmam os fatos e as frustrações dos anos que Ronaldo vive no abrigo e tenta largar o vício da bebida. “Eu sei que ainda estou vivo graças ao abrigo e sei que se eu beber de novo vou direto para o cemitério”, diz Ronaldo, popularmente conhecido como Nenê. “Amigo de cachaça não é amigo”.

Assim como Ronaldo, os demais nove internos também foram encontrados desamparados pelas ruas de Luís Eduardo, sem nenhuma perspectiva de vida e confiscados, em sua maioria, pelo álcool. 

João Paulo conta que a maioria dos casos atendidos pelo abrigo é de homens que tem envolvimento com a bebida. “Nosso objetivo principal é tentar a aproximação, a socialização e a reabilitação de pessoas menos favorecidas, moradores de rua, portadores de deficiência física e idosos esquecidos pela sociedade”, afirma o coordenador, ao lembrar que o abrigo, administrado pela Comunidade Católica Sagradas Chagas, segue uma rotina diária, onde cada um tem sua função. “O dia começa às 5horas e encerra às 22horas, com intervalos dedicados a oração, alimentação, além de atividades de organização e manutenção da casa”. Ainda, sobre a rotina diária dos abrigados, João Paulo afirma que ninguém é obrigado a fazer o que não gosta, mas deve seguir as normas da casa.

Ao longo dos sete anos de trabalho, iniciados em março de 2004 no bairro Mimoso I, mais de mil pessoas passaram pelo Abrigo São Francisco e Santa Clara. Atualmente o abrigo atende 10 pessoas, mas possui capacidade de alojamento para mais cinco internos.

Vila da Misericórdia
Os desejos da diretoria da Associação São Francisco e Santa Clara em proporcionar dias melhores àqueles que foram esquecidos pela sociedade ou tratados como “lixo humano”, vão além do abrigo no bairro Santa Cruz. 

A entidade, segundo João Batista, está trabalhando para idealizar o projeto da construção da Vila da Misericórdia, focado na promoção da reabilitação de pessoas com dependência química, em especial aqueles desamparados, mas que manifestam o desejo da recuperação. “A intenção da comunidade terapêutica é se tornar um projeto auto-sustentável desenvolvido, essencialmente, com o trabalho dos internos que a vila abrigará”, explica João.
Sobre a capacidade de pessoas que a vila da misericórdia pretende atender, após a consolidação do projeto total, orçado em aproximadamente R$ 2 milhões, distribuídos em três hectares de área, será de 30 pessoas (homens) com dependência química, além de familiares e colaboradores. “Nossa ideia inicial é de acolher dez pessoas, e aumentar esse número conforme a demanda de casos”.

Segundo João Batista, a entidade já possui a área da Vila da Misericórdia, situada no Setor das Chácaras - Bom Recreio, próximo ao Jardim Alvorada, que vem sendo paga com parcelas anuais de R$ 20 mil, com a doação da comunidade. “Queremos já neste ano de 2012, iniciarmos a edificação do primeiro prédio, além da capela e o cercamento da área”, explica. 

Fonte: Globo Rural 

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