sexta-feira, 12 de abril de 2013

Beatificação de Nhá Chica - Filha de Escrava


O que aconteceu com uma mulher a medicina não explica. De uma hora para outra, o problema no coração desapareceu.
“Ele disse assim: Eu não sei dizer o que aconteceu com a senhora. A hipertensão pulmonar da sra caiu, a senhora está curada”, conta Dona Ana Lucia, professora aposentada.
Em 1995, aos 50 anos, Dona Ana Lucia perdeu a visão por alguns minutos. Foi um sinal de alerta.
“Fiz ressonância magnética, fiz eco, fiz todos os exames e eles descobriram que o que havia comigo era um defeito congênito. Era preciso fazer urgentemente uma cirurgia cardíaca”, declara Dona Ana Lucia.
Três dias antes da data marcada, o rumo dessa história mudou completamente. Dona Ana Lúcia teve febre e ligou para o cardiologista.
“Pelo menos sete dias a gente vai aguardar passar essa infecçãozinha para voltar marcar emSão Paulo. Mas desse dia em diante eu me agarrei demais em Nhá Chica. Falei: ‘Nhá Chica, quem sabe a senhora vai salvar meu coração, a minha vida?’”, Dona Ana Lucia.
Francisca de Paula de Jesus, a Nhá Chica, é mostrada em um retrato. A única fotografia que existe da mulher simples, analfabeta, que dedicou a vida a ajudar os pobres e a rezar por todos.
Nhá Chica viveu em Baependi, uma cidade pacata do sul de Minas, com menos de 20 mil habitantes. A história da filha de escrava que atendia a todos os pedidos foi passando de boca em boca, de geração em geração. Por aqui todo mundo conhece alguém que conviveu com ela ou que recebeu uma graça. E agora essa fé em Nhá Chica também deve se espalhar pelo mundo.
Vaticano já assinou o decreto de beatificação. A cidade se prepara e se enfeita para a cerimônia oficial, dia 4 de maio. É o primeiro passo para a santificação de Nhá Chica.
“Um dia a Igreja iria reconhecer essa mulher negra, saída da barriga de uma mãe escrava, a santidade dessa mulher que viveu na senzala até seus oito anos. Tem pessoas que não sabem nem pedir. Que chegam aqui e apenas abrem o braço diante da Nhá Chica, então é muito bonito isso para nós. O que representa: a exaltação mais uma vez dos humildes. Deus escolhe sempre os humildes”, irmã Claudine Riveiro, diretora da Associação Beneficente Nhá Chica.
Ao lado da casa onde morava, Nhá Chica construiu uma capela em homenagem à Nossa Senhora da Conceição. Demorou 30 anos para concluir a obra com dinheiro de esmolas. A capela foi demolida e, no mesmo lugar, foi erguida uma igreja maior, que já ficou pequena para a quantidade de devotos da santa de Baependi.
Todo fim de semana é assim. Gente da região, ou que vem de longe.
“Chegamos com os pés arrebentados, mas para a gente isso pouco importa. Quatorze horas de caminhada”, declara José Lafayete Ribeiro, aposentado.
Não importa o meio de transporte. Se é moço ou velhinho. Cada um tem um motivo para estar aqui.
“Eu parei de beber. Então eu tenho uma satisfação muito grande por ela”, conta o jardineiro Amauri Batista da Rocha.
A maioria dos pedidos e agradecimentos é feita, assim, de joelhos, ao lado do túmulo onde até hoje estão os restos mortais da santinha da cidade.
E não se pede só a cura de doenças não. Para os moradores, ela também ajuda a recuperar objetos e animais perdidos. E faz até instrumento voltar a funcionar. Dizem que quando o órgão comprado por Nhá Chica para a igrejinha chegou, não tocava de jeito nenhum para a frustração dos fiéis.

“Ela pediu que esperassem, rezou, voltou e disse para os presentes: ‘O órgão não está estragado. Nossa Senhora quer que ele toque na sexta-feira às três da tarde, na hora da agonia de Jesus. Aí a curiosidade aumentou. Ela vem, o povo vem, comparece na sexta-feira e, de fato, quando o maestro pôe a mão no teclado, conseguiu tocar o órgão. Ele não tinha estragado”, conta Yolanda Aparecida Fernandes, advogada.
E até hoje está funcionando.
Mas o milagre decisivo para que Nhá Chica fosse considerada beata foi o de Dona Ana Lúcia. Seis meses depois da febre que impediu a cirurgia, ela repetiu os exames pré-operatórios. Era uma sexta-feira, três horas da tarde. Dia e horário em que Nhá Chica costumava rezar com mais fervor para Nossa Senhora.
“O médico demorou comigo na sala duas horas. E eu me sentia perdida com essa demora toda. ‘Será que estão descobrindo mais coisas em mim? Nhá Chica me ajuda’. Ele disse: ‘Dona Ana Lucia, a senhora foi operada’. Eu comecei a chorar. ‘Foi ela, foi Nhá Chica’. Eu não podia me conter. A senhora não pediu ao Chico Xavier, não fez cirurgia espiritual? Falei: ‘Não, só pedi para a santa de Baependi’. Entrei na primeira igreja que eu encontrei, agradeci a Nhá Chica de todo meu coração”, conta Dona Ana Lucia.
Fonte: Globo Repórter 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Pai e filho serão ordenados sacerdotes nos Estados Unidos

WALSINGHAM - Em um acontecimento pouco comum na  Igreja  Católica, pai e filho serão ordenados sacerdotes nos Estados Unidos....