sexta-feira, 26 de abril de 2013

Padre Aírton: Voto de Pobreza


Uma vida dedicada ao próximo. Um templo a céu aberto, em Arcoverde, no sertão de Pernambuco. O padre que celebra cantando, debaixo do umbuzeiro, acredita que para chegar perto de Deus é preciso mais do que orações. “Evangelizar sempre com a própria vida e, se possível, algumas vezes, com palavras”, diz o padre Aírton Freire.

O padre Aírton é exatamente assim: vive o que prega. Ele decidiu ser um cristão na essência, na caridade, na fraternidade e na humildade.
Foi em uma casa pequena, de taipa, cercada pela caatinga, que o padre Aírton escolheu para morar. É um lugar de isolamento e extrema simplicidade. Não tem luz elétrica nem água encanada.
A casa tem poucos móveis. A cama foi construída com galhos da região. Uma rede, ao fundo o banheiro, um pote d’água, e a decoração é com quadros de Nossa Senhora e de Jesus Cristo. Sempre que anoitece o padre para essa casa, onde ele dorme poucas horas por noite: entre duas e três horas apenas.
“Eu passo o dia ajudando, ouvindo. Eu sou um padre que escuta. Mas eu preciso depois me recolher à minha casa de taipa, à minha capelinha em honra à Virgem Imaculada Conceição. Lá eu refaço as minhas forças”, declara o padre Aírton.
Houve um tempo em que ele balançou. Com dois anos de sacerdócio, a dúvida ocupou a cabeça e o coração do padre.
“Ser padre para quê? Eu conheci a rua do lixo em um momento tão difícil e, à partir daquele momento, eu disse: ‘Eu encontro sentido vivendo para eles, com eles, à partir deles, tendo cristo como a centralidade da minha vida’”, conta o padre.
A rua do lixo era o pior dos pesadelos. Mais de 200 famílias vivendo na miséria e no abandono nos anos de 1980. “As casas eram tudo coberto de lata, de papelão. Não tinha água encanada, não tinha energia”, conta a voluntária Maria de Fátima Oliveira.
Gente e animais disputavam as sobras. Todos se alimentavam e se vestiam com o que os outros jogavam fora. “Eu fiquei tão emocionado, tão emocionado quando vi as pessoas catando lixo, quebrando pedra, uma criança gritando: ‘Pelo amor de Deus eu estou com fome’”, conta o padre.
O padre se mudou para a comunidade e juntou as preces às ações, inspirado num lema.
O antigo lixão ficou no passado. Hoje a rua do lixo segue em direção a um futuro mais digno para os seus moradores. O endereço virou um símbolo de transformação e um exemplo de que a fé move montanhas. Até mesmo as montanhas de lixo.
Nada de criança correndo atrás do caminhão de lixo. Agora elas vão para a escola, felizes da vida. E ainda têm cursos profissionalizantes, informática, e um maracatu que é uma beleza.
Os miudinhos frequentam a creche. Os mais idosos ganharam um endereço para chamar de lar. E a comunidade se mudou para casinhas de tijolo. Padre Aírton conseguiu tudo isso com o dinheiro de doações.
A fundação que ele criou também arrecada dinheiro. Mas a conta dificilmente fecha. E dá para ver o motivo.
Os planos de dar uma vida melhor aos moradores da região são ambiciosos. Trinta projetos sociais. A mais nova obra é inacreditável. Um centro de reabilitação para pessoas com deficiência física e intelectual, o mais bem equipado de Pernambuco. São atendidos mais de 200 pacientes por dia, de 14 municípios.
“Eu estou na minha quarta sessão de fisioterapia. Eu não sentava, só andava de maca, e hoje é o meu primeiro dia sentada”, diz a paciente Ângela Karina da Silva.
O sacerdote ainda arranja tempo para ouvir todos que o procuram. E são muitos em busca também de conselhos espirituais. Diante de tantas missões, de tantos desafios, como será que o padre Aírton se define? “Um homem que buscou e que encontrou a Jesus no meio dos pobres”, diz ele.
E devolveu aos pobres do sertão a alegria de viver.
Fonte: Globo Repórter 

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